terça-feira, 27 de julho de 2010


Tenho aprendido com o tempo que a felicidade vibra na frequência das coisas mais simples. Que o que amacia a vida, acende o riso, convida a alma pra brincar, são essas imensas coisas pequeninas bordadas com fios de luz no tecido áspero do cotidiano. Como o toque bom do sol quando pousa na pele. A solidão que é encontro. O café da manhã com pão quentinho e sonho compartilhado. A lua quando o olhar é grande. A doçura contente de um cafuné sem pressa. O trabalho que nos erotiza. Os instantes em que repousamos os olhos em olhos amados. O poema que parece que fomos nós que escrevemos. A força da areia molhada sob os pés descalços. O sono relaxado que põe tudo pra dormir. A presença da intimidade legítima. A música que nos faz subir de oitava. A delicadeza desenhada de improviso. O banho bom que reinventa o corpo. O cheiro de terra. O cheiro de chuva. O cheiro do tempero do feijão da infância. O cheiro de quem se gosta. O acorde daquela risada que acorda tudo na gente. Essas coisas. Outras coisas. Todas, simples assim.

Tenho aprendido com o tempo que a mediocridade é um pântano habitado por medos famintos, ávidos por devorar o brilho dos olhos e a singularidade da alma. Que grande parte daquilo em que juramos acreditar pode ser somente crença alheia que a gente não passou a limpo. Que pode haver algum conforto no acordo tácito da hipocrisia, mas ele não faz a vida cantar. Que se não tivermos um olhar atento e generoso para os nossos sentimentos, podemos passar uma jornada inteira sem entrar em contato com o que realmente nos importa. Que aquilo que, de fato, nos importa, pode não importar a mais ninguém e isso não tem importância alguma. Que enquanto não nos conhecermos pelo menos um pouquinho, rabiscaremos cadernos e cadernos sem escrever coisa alguma que tenha significado para nós.

Tenho aprendido com o tempo que quando julgamos falamos mais de nós do que do outro. Que a maledicência acontece quando o coração está com mau hálito. Que o respeito é virtude das almas elegantes. Que a empatia nasce do contato íntimo com as nuances da nossa própria humanidade. Que entre o que o outro diz e o que ouvimos existem pontes ou abismos, construídos ou cavados pela história que é dele e pela história que é nossa. Que o egoísmo fala quando o medo abafa a voz do amor. Que a carência se revela quando a autoestima está machucada. Que a culpa é um veneno corrosivo que geralmente as pessoas não gostam de ingerir sozinhas. Que a sala de aula é a experiência particular e intransferível de cada um.

Tenho aprendido com o tempo coisas que somente com o tempo a gente começa a aprender. Que o encontro amoroso, para ser saudável, não deve implicar subtração: deve ser soma. Que há que se ter metas claras, mas também a sabedoria de não se transformar a vida numa sala de espera. Que a espontaneidade e a admiração são os adubos naturais que fazem as relações florescerem. Que olhar para o nosso medo, conversar com ele, enchê-lo de cuidado amoroso quando ele nos incomoda mais, levá-lo para passear e pegar sol, é um caminho bacana para evitar que ele nos contraia a alma.

Tenho aprendido que se olharmos mais nos olhos uns dos outros do que temos feito, talvez possamos nos compreender melhor, sem precisar de muitas palavras. Que uma coisa vale para todo mundo: apesar do que os gestos às vezes possam aparentar dizer, cada pessoa, com mais ou menos embaraço, carrega consigo um profundo anseio de amor. E, possivelmente, andará em círculo, cruzará desertos, experimentará fomes, elegerá algozes, posará de vítima para várias fotos, pulará de uma ilusão a outra, brincará de esconde-esconde com a vida, até descobrir onde o tempo todo ele está.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Abri a porta pra você entrar
Troquei sorrisos com o seu olhar
Que olhava o meu, querendo o seu, mais perto

Me perco ao chão nas promessas loucas vãs
Que por amor um dia eu fiz por você

Agora o que fazer
Se o sonho de amar você se foi
Agora o que dizer
Se os versos já não rimam mais

Abri a porta pra você entrar
Troquei sorrisos com o seu olhar
Que olhava o meu, querendo o seu, mais perto

Me perco ao chão nas promessas loucas vãs
Que por amor um dia eu fiz por você

Agora o que fazer
Se o sonho de amar você se foi
Agora o que dizer
Se os versos já não rimam mais

Nossa história-Lorena Chaves ♪

domingo, 25 de julho de 2010

"Sabe, Linus, eu tô desenvolvendo uma nova filosofia,
eu só preciso suportar um dia por vez."

Charlie Brown
"- Sabe, as vezes olho pra você e vejo a Dorothy. Com sapatinhos vermelhos. Vestido azul quadriculado. Sem o Totó, mas com a mesma vontade de voltar pra casa, e não saber qual o caminho... E eu me sinto o próprio Homem de Lata, necessitado de um coração e aprendendo sobre afeto com você...

- Pois é. Frequentemente quero voltar pro Kansas. Mas, nem sei onde fica o meu Kansas!! E já que sou a Dorothy e você o Homem de Lata, tenho que relembrar uma coisa: "Corações só serão práticos quando não puderem ser quebrados"... Nem o Mágico de Oz poderia consertar o coração. Só o tempo conserta. E o tempo é tão caprichoso. ele nos deixa sofrer bem muito com dores latentes, e aí em uma belo dia de abril o coração acalma e você se senti um tolo.

- Mas ainda assim, como o bom Homem de Lata que sou, preciso de um coração. E você precisa voltar pra casa..

- Precisamos sim. Mas como vamos conseguir..?

- Nem temos tijolos amarelos para seguir..."

Desconheço autoria
"Mais de meio julho e um agosto inteiro a atravessar. Conseguiremos resistir?"
Caio F. Abreu

quinta-feira, 22 de julho de 2010


"Ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei. Apronto agora os meus pés na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento. Vou ali ser feliz e já volto."

Caio F. Abreu

"Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas."

Lygia Fagundes Telles

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe... Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,
talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.

Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas...
Que a esperança nunca me pareça um "não" que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como "sim".

[...]

Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão... Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim...e que valeu a pena!!!

Mário Quintana
Tomara que a neblina das circunstâncias mais doídas não seja capaz de encobrir por muito tempo o nosso sol. Que toda vez que o nosso coração se resfriar à beça, e a respiração se fizer áspera demais, a gente possa descobrir maneiras para cuidar dele com o carinho todo que ele merece. Que lá no fundo mais fundo do mais fundo abismo nos reste sempre uma brecha qualquer para ver também um bocadinho de céu.

Tomara que os nossos enganos mais devastadores não nos roubem o entusiasmo para semear de novo. Que a lembrança dos pés feridos quando, valentes, descalçamos os sentimentos, não nos tire a coragem da confiança. Que sempre que doer muito, os cansaços da gente encontrem um lugar de paz para descansar na varanda mais calma da nossa mente. Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor.

Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito. Que, mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de busca a ideia da alegria.

Tomara que apesar dos apesares todos, dos pesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão da felicidade.

Tomara.

Ana Jácomo
Chega um momento em que a gente se dá conta de que, às vezes, para sermos verdadeiros com nós mesmos, precisamos ter o desprendimento para abençoar as tentativas sem êxito, agradecer pelo o que cada uma nos ensinou, e seguir. De que, às vezes, para se reconstruir, é preciso demolir construções que, por mais atraentes que sejam, não são coerentes com a ideia da nossa vida. A gente se dá conta do quanto somos protegidos quando estamos em harmonia com o nosso coração. De que o nosso coração é essencialmente amoroso, o bordador capaz de tecer as belezas que se manifestam no território das formas. De que, sabedores ou não, é ele que tem as chaves para as portas que dão acesso aos jardins de Deus. E, vez ou outra, quando em plena comunhão criativa, entra lá, pega uma muda de planta e traz para fazê-la florescer no canteiro do mundo.

Ana Jácomo